Você já teve a sensação de que as coisas estão rápidas demais? Que estamos consumindo informação no automático, sem espaço pra digerir, questionar ou transformar em algo nosso?
Essa sensação ganhou um novo nível nos últimos dias, quando me deparei com os vídeos criados pelo Veo 3, nova IA do Google. A tecnologia impressiona pela capacidade de gerar vídeos hiper-realistas, com movimentos, expressões faciais, vozes e cenários que nos fazem duvidar da própria realidade.
Não por acaso, o assunto virou tema de matérias no Fantástico, no UOL, nas redes e em conversas entre amigos: se nem tudo que vemos é real, o que ainda é conhecimento?
Essa pergunta nos leva direto à Gestão do Conhecimento Pessoal (GCP). Em um mundo onde a informação se multiplica em velocidade exponencial e a IA “pensa” por nós em tempo real, como cultivar a habilidade de pensar por conta própria? Como manter viva a curiosidade, o senso crítico, a capacidade de refletir sobre o que lemos, vivemos e sentimos?
Há quanto tempo você não lê um livro com calma? Não falo de abrir o livro, dar uma olhada em umas páginas ou ouvir audiobook em 2x. Falo de ler pra dentro. De absorver. De parar e se perguntar: “O que isso muda em mim?”
Eu mesma lia muito mais antes. Hoje, com tanta coisa pra gerenciar, reduzi bastante o tempo de leitura profunda. Mas estou voltando, aos poucos, no meu ritmo. E sabe uma coisa curiosa? Comecei a usar a IA como parceira de leitura. Criei um “clube de leitura” só meu… e com ela. Sim, converso com a IA sobre os livros que estou lendo, sobre os insights que tive, as dúvidas que surgiram.
É uma experiência nova. Antes, o processo de leitura era solitário. Agora, virou diálogo. E tem sido bom.
Conhecimento exige tempo. E tempo exige escolha.
O processo de conhecer não é instantâneo. Diferente da IA, que responde em segundos, nós precisamos de pausa, de silêncio, de ócio criativo. Precisamos de digestão mental.
Na minha rotina, tem um momento que eu não abro mão: meus 30 minutos de silêncio no fim do dia. Luz apagada, nada de celular, só eu e meus pensamentos. É ali que as ideias decantam. É quando tudo o que aprendi durante o dia começa a se reorganizar internamente, virar ideia, virar conteúdo, virar aprendizado.
Às vezes penso em transformar isso em pesquisa formal (e logo desisto … pesquisar também exige muito tempo… rs). Mas é esse espaço interno que me lembra que pensar é um ato humano. É parte de quem eu sou.
Se a IA pensa por nós… o que sobra?
A IA é treinada. Nós somos atravessados por experiências, contradições e memórias. A IA responde a comandos. Nós somos moldados por sentidos.
Mas… até que ponto esse diferencial vai continuar existindo, se abrirmos mão do tempo de pensar, de refletir, de aprender com profundidade?
Estamos nos acostumando a terceirizar tudo: desde o que escrever até o que sentir. E nesse caminho, corremos o risco de ficarmos preguiçosos, de perder a prática de pensar e, por que não, de nos tornarmos um pouco mais burros.
GCP: um antídoto contra a superficialidade
A GCP nos convida a fazer escolhas conscientes sobre o que consumir, o que guardar, o que transformar. Nos lembra que informação não é conhecimento e que conhecer dá trabalho.
Nos lembra também que o autoconhecimento não nasce de frases prontas, mas da disposição de olhar pra dentro. E isso demanda tempo, profundidade, intenção.
No fim das contas…
A IA pode ser nossa parceira, mas não substitui o que nos torna humanos: o tempo de maturação, o olhar subjetivo, o silêncio criativo, o pensamento com propósito.
Gerir o próprio conhecimento, hoje, é mais do que uma habilidade. É um ato de resistência, lucidez e liberdade.
